Trajetos do Espanto
por Ilza R. Landi
Desde que comecei a participar dos “Encontros de Filosofia”, que ocorriam no Barracão de Artes e Criatividade em Caldas, sob a coordenação do Professor da Unicamp, Antônio Florentino Neto, fui tomada pelo espanto, admiração às descobertas dos sábios, tanto orientais como ocidentais sobre a natureza humana. Séculos antes de Cristo, estes homens já se propunham questões importantes!
“Quem somos nós?”- foi essa, com certeza, uma das dúvidas básicas por eles consideradas. No Oriente, levados pela meditação, pela intuição, os filósofos respondiam a tais questões com histórias que se tornaram famosas, como aquela do pastor e seu boi, que mostra os primeiros passos da individuação consciente.
Enquanto isso, no Ocidente, no famoso cenário da civilização grega, primeiro com os filósofos pré-socráticos e depois, com Sócrates, Platão e Aristóteles e seus discípulos, os sábios estavam a raciocinar sobre as mesmas dúvidas. Lá nas terras orientais, as respostas chegavam mais pela intuição, percepção e meditação; aqui, através do pensamento reflexivo e lógico, sem que haja demérito para uns ou outros.
Hoje buscamos ligar os saberes do Oriente e os do Ocidente em sua origem, para melhor compreendermos os passos dados pela Humanidade nessas descobertas.
No trajeto, somos despertados para uma grande reflexão: afinal de contas, o ser humano possui dentro de si um “EU” (o ser que surge no nascimento, aqui, agora) mas também possui o “NÓS”( que são as múltiplas faces internas, percebidas no decorrer da existência). Como? Eu que é Nós, Nós que é Eu?!!! Esse espanto surgiu com a leitura do livro “Budismo e Filosofia em diálogo”, no artigo de Hisao Matsumaru, traduzido pelo Professor Joaquim A.B. Monteiro, que esteve presente no Barracão de Artes e Criatividade em encontros passados. O referido artigo transportou-nos a Hegel, filósofo nascido no Ocidente no século XVIII, e que expôs tal fato psicológico em seu livro “Fenomenologia do Espírito” (9ª. Edição, Ed. Vozes, pg 142).
Vários de nossos encontros se realizaram no decorrer dos últimos anos. Entretanto podemos saltar, sem medo de cair no escuro, para o encontro de 2018 com o Professor da Unicamp Luiz B. L. Orlandi, tradutor de obras de Gilles Deleuze, filósofo do século XX. Através de um texto maravilhoso de sua autoria, o professor Orlandi desvendou-nos vários conceitos de Deleuze. Refletimos, pois, sobre os movimentos do ser e suas múltiplas faces, compreendendo com Deleuze, que este ser único, singular, que vive aqui, agora, deve estar sempre pronto a encontrar-se com os outros de si mesmo e a encontrar-se também com os outros seres humanos, aceitando as diferenças e exercendo o poder de afetar e ser afetado, nas mais variadas vias de transmutação